[Apresentação] Companhia das Ilhas

A Companhia das Ilhas iniciou a sua actividade de edição de livros em 5 de Maio de 2012.
É uma editora livreira independente.

Os autores, os “géneros” e as colecções são escolhas de gosto pessoal. Articulam-se com a opção de editar “géneros” negligenciados por grande parte das editoras portuguesas – poesia, teatro, ensaio, conto. Os preços justos são uma opção política editorial, não um estratagema comercial (o que implicaria a subalternização de textos e de autores). Esta política agiliza a edição e passa ao lado das máquinas (demasiado) bem oleadas do mainstream.

A Companhia das Ilhas é bem capaz de ser ilha: ilha movente que deita âncora aqui e ali: livrarias (reais e virtuais), formas várias de distribuição (mas atenta às perversidades do sistema e sempre pronta a zarpar para outras geografias).

Algumas das obras publicadas:

 Nem tudo no mar é água
Ana Paula Martins Goulart

Em Nem tudo no mar é água, a autora conta estórias da sua meninice, passada na ilha do Faial, onde nasceu, em 1958, e do Pico, espaço-tempo de férias. O seu olhar, que é tanto ingénuo quanto mordaz, mostra ao leitor de hoje um mundo rico e multifacetado onde o mar, o oceano Atlântico, tem uma presença muito forte, a memória recente dos vulcões (o sismo dos Capelinhos no Faial é de 1957), a vida familiar, as dificuldades do isolamento insular e do contexto nacional (o salazarismo). Um tempo a redescobrir por uma escritora que faz nesta obra a sua primeira incursão literária.
ExcertoÀs vezes as ideias vêm de dentro. E uma cadeira ou uma rede de pensar ajudam muito. O importante é estar alerta.
 A borbulha no rabo. Poemas terríveis para crianças terríveis
Gez Walsh
Versão portuguesa de Helder Moura Pereira
Obra Recomendada pelo Plano Regional de Leitura dos Açores
Entre o proibido e o autorizado, dos meninos bem comportados aos meninos terríveis, a linguagem destes poemas revela um humor a dizer-nos como não é preciso ter vergonha de quase nada. A versão portuguesa do poeta Helder Moura Pereira recria admiravelmente o original, com um humor muito próprio, numa linguagem rigorosa e inventiva.
ExcertoÀs três o árbitro apitou para o jogo começar
mas o nosso avançado não percebeu, estava a limpar
o nariz. A bola passou por ele
na maior das calmas,
o nosso defesa teve de ir à jogada,
atrapalhou-se e caiu – ninguém bateu palmas.
O guarda-redes fez-se ao lance,
parecia senhor da situação,
mas a bola passou-lhe por cima da cabeça
e entrou na baliza junto ao travessão.
Está-se mesmo a ver que vamos perder,
a selecção está em saldo.
Mas atenção porque vai entrar,
com a camisola nº 7, Cristiano Ronaldo!
Pede logo que lhe passem a bola,
levanta-a e pára-a no peito,
muda de velocidade e vai por ali fora,
faz uma finta, faz outra, até que lhe sai ao caminho
um daqueles defesas que não brincam em serviço:
Deixem-no comigo, é limpinho.
Tentou o desarme
mas não teve sorte,
porque Ronaldo aplicou-lhe uma finta de morte
e deixou-o pregado ao relvado.
E Ronaldo prossegue a jogada,
com a bola bem controlada,
ultrapassa o guarda-redes
e atira para a baliza deserta.
O estádio quase vem abaixo: Golo!
E ainda meteu mais seis,
todos de belo efeito.
Segundo Paulo Bento, começou no banco por precaução
mas mais uma vez demonstrou que é um grande campeão.
[“Cristiano Ronaldo, o nº 7 de Portugal”]
 Picolândia
Manuel Tomás

Estas crónicas de Manuel Tomás, que apareceram inicialmente no semanário picoense Ilha Maior , ganham agora em livro novos sentidos. Momentos, acontecimentos, ideias – sempre com alguma ironia e riso à mistura.
Excerto
Depois da festa de atribuição da categoria de maravilha de Portugal, o Pico, que já era uma “maravilha de lava e altura”, merece que deixemos falar o coração, mas vai ser preciso que ouçamos a cabeça, sem perder a razão de que a qualidade da ilha que temos só o será, realmente, se o for para as gentes que cá vivem.
Se Raul Brandão voltasse hoje ao Pico, voltava a escrever: “O Pico é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma beleza que só a ela lhe pertence, duma cor admirável e com um estranho poder de atracção.”?
[Pico, maravilha de lava e altura]
Açores a Pé
Nuno Ferreira

Entre Março e Dezembro de 2012, o jornalista Nuno Ferreira atravessou demorada e pormenorizadamente o arquipélago dos Açores numa jornada de busca da natureza, tradições culturais e quotidiano das ilhas. Numa viagem semelhante à que fizera no continente e que originou a publicação do livro Portugal a Pé, o repórter deixou-se embalar pelo quotidiano dos Açores, de São Miguel ao Corvo. Assistiu a peregrinações, conviveu com velhos barbeiros, baleeiros, tocadores e cantadores e contadores de histórias, fugiu do touro em touradas à corda, intrometeu-se em bailes regionais, desceu e subiu as fajãs de São Jorge, enfrentou uma derrocada num dos mais belos trilhos das Flores, presenciou a tempestade tropical Nadine na Graciosa, encheu-se de lama no norte de Santa Maria, subiu ao Pico, entre outras tantas peripécias. Em duas ocasiões, saltou para dentro de uma embarcação, acompanhando a pesca ao atum em São Miguel e a pesca ao goraz na Ilha do Corvo. O resultado é uma narrativa que procura espelhar, à medida da passada e o fôlego do jornalista, os contrastes da vivência quotidiana em cada uma das ilhas do arquipélago.
Excerto
Voltei com saudades da viola da terra mas também dos bailes de roda lentos e gentis da Graciosa ou de São Jorge, da Chamarrita endiabrada do Pico, das quedas de água das Flores, do movimento das tascas dos pescadores micaelenses. Das adegas do Pico. Das touradas à corda na Terceira. Da vindima na Graciosa. Do colorido das procissões. Dos cânticos dos romeiros a acordarem-me nos Ginetes, São Miguel, pelas seis ou sete da manhã. Das estradas bordejadas a verde, dos chafarizes, das igrejas brancas e negras que a vista alcança várias lombas antes de se chegar à freguesia.
Saudades de me perder numa mancha de cedro do mato, chegar a uma clareira semi-encoberta pelo nevoeiro e dar com elas, sempre elas, as vacas, espantadas a olhar para mim e a fugir em seguida.
Lá em baixo, embatendo nas arribas, o mar, sempre ele. Saudades, evidentemente, de adormecer ao som do “bonc” surdo das ondas a bater no molhe ou na arriba e do som riscado dos cagarros. E saudades, finalmente, da hospitalidade açoriana: “O senhor é do continente? E está gostando da nossa ilha?”

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